Rádio ACE
  4 de dezembro de 2020

JOÃO DALTO SOBRINHO

                                                        José Carlos Buch

O João se foi há uma semana, vitimado pelas complicações do Covid-19. É claro que muitos Joãos, possivelmente também se foram no mesmo dia e,  em tantos outros dias. A diferença é que  o João a quem a coluna rende homenagens hoje, além de empresário bem sucedido e gerador de inúmeros empregos na cidade,  era um ser humano diferenciado – ponderado, sério, discreto,  equilibrado, calmo,  cortês, sensato, visceralmente honesto, dedicado à família  e comprometido com as entidades as quais pertencia por décadas, sempre dignificando-as, dentre elas a ACE e Loja Maçônica Restauradora 111. Seguramente muitos outros adjetivos poderiam ser acrescentados, mas essa tarefa fica por conta dos amigos e daqueles que com ele tiveram a alegria e o privilégio de conviver e compartilhar do seu jeito João de ser.   No seu velório, onde faltava lugar para estacionar, mas sobrava solidariedade à família, sua esposa enlutada Marilena,  ao ser cumprimentada, observou que, em outros povos os mortos não são velados tal como aqui. De fato, em muitas culturas fazem até festa, como  no México,  no Japão e, em muitos países da Ásia e do Oriente. Isso faz lembrar um texto maravilhoso escrito pelo rabino Henry Sobel, quando da morte do governador Mario Covas. E, é  com ele, que a coluna rende homenagens ao João e oferece solidariedade a toda a família. – “Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menos. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram. Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte certamente exclamará: “Já se foi”. Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: “Já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “lá vem o veleiro”!!! Assim é a morte. Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: “Já se foi”. Terá sumido? Evaporou? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O ser amado continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E, é assim que, no mesmo instante em que dizemos: “Já se foi”, no além, outro alguém dirá: “Já está chegando”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida. Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julga desnecessário. A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada. Assim, um dia, todos nós partiremos como seres imortais que somos,  todos nós ao encontro daquele que nos criou.” O seu legado pode ser resumido numa frase –  um homem que fez acontecer no seu tempo,  construindo uma trajetória e um histórico de virtudes e bons exemplos. E, isso não é pouco! O João se foi num momento em que o mundo,  vivendo tantos conflitos, aflições, intolerâncias e incompreensões, mais precisava da sua serenidade e sabedoria.  Contudo, certamente ele se foi sem nunca ter ido, porque,  além de venerado estará eternizado no coração daqueles  que aprenderam a admirá-lo e a amá-lo.   Como profetizou um dia, Públio Cornélio Tácito ou Caio Cornélio Tácito – 56 – 120 d.C(historiador e senador Romano), “O tumulo dos mortos é o coração dos vivos”.

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